Relação pais e filhos: compreendendo o interjogo das relações parentais.
Relação pais e filhos: compreendendo o interjogo das relações parentais.
A temática da criação dos filhos tem sido constante no cotidiano das pessoas e na sociedade e vem sendo muito pesquisada nas últimas décadas. Diversos trabalhos têm dedicado atenção especial aos estilos e práticas parentais. Utiliza-se o termo “estilos parentais” como relativo às formas com que os pais lidam com as questões de poder, hierarquia e apoio emocional na relação com os filhos. Os pais possuem determinados valores que querem ver desenvolvidos em seus filhos e esses embasam suas metas educativas. As práticas educativas parentais, por sua vez, correspondem a comportamentos definidos por conteúdos específicos. São estratégias usadas para suprimir comportamentos considerados inadequados ou incentivar a ocorrência de comportamentos desejados.
Desta forma, o estilo e a prática educativa estão normalmente associados, uma vez que o conjunto de práticas educativas utilizadas pelos pais na interação com os filhos formará o estilo parental, ou seja, as práticas educativas, combinadas de diferentes formas, resultam em estilos parentais diversos. Os estilos parentais representam, portanto, o contexto em que os pais influenciam seus filhos através de suas práticas, de acordo com suas crenças e valores. São tendências relativamente estáveis através das quais os pais reagem com uma conduta (ou prática) dirigida à criança. A seleção das práticas educativas está guiada pelas metas, as quais são embasadas pelos valores parentais – os estilos parentais. As práticas educativas parentais estão relacionadas aos problemas de comportamento que, em geral, são agrupados em duas categorias: os comportamentos de externalização (agressão verbal ou física; destruição de objetos; hiperatividade; comportamentos delinquentes) e os de internalização (isolamento social; ansiedade; depressão; queixas somáticas. Embora haja indícios de que, já por volta dos três anos, algumas práticas parentais se relacionam a problemas de externalização da criança, é na fase da adolescência que esses comportamentos ficam mais evidentes e, portanto, são mais estudados. (MACARINI et al., 2010). Tremblay (2000) afirma que apenas nos últimos anos passou-se a considerar a relevância clínica dos indicadores de externalização apresentados por crianças com menos de seis anos como preditores de possíveis dificuldades futuras. Segundo o autor, os anos pré-escolares constituem um período crucial, durante o qual as crianças aprendem estratégias de substituição à agressão. Em estudo longitudinal, Baumrind (1991) investigou o impacto dos estilos parentais no desenvolvimento de 139 crianças aos 15 anos de idade, as quais já haviam participado de outro estudo aos 04 e 10 anos de idade. Com base nas análises do estudo que contemplou as idades de 04 e 10 anos, a partir das duas dimensões do comportamento parental utilizadas nas revisões de Maccoby e Martin (1983) – controle e afeto – Baumrind derivou uma classificação de quatro tipos de comportamento parental: democrático-recíproco; autoritário; permissivo; e rejeitador-negligente. Estes quatro protótipos diferem em relação ao contexto social, ao período de desenvolvimento e ao método de acesso, mas assumem características específicas.
Pais com estilo democrático-recíproco possuem altos níveis de exigência e de responsividade; são assertivos, mas não intrusivos ou restritivos. Os pais de estilo autoritário possuem alta exigência e baixa responsividade (são pouco afetivos). Modelam, controlam e avaliam o comportamento da criança de acordo com regras de conduta estabelecidas através de padrões, em geral, absolutos. Enfatizam a obediência como uma virtude e são a favor de medidas punitivas para lidar com aspectos da criança que entram em conflito com o que eles pensam ser certo. Já os pais permissivos apresentam baixos níveis de exigência e altos níveis de afeto. Tentam se comportar de maneira não punitiva e receptiva diante dos desejos e ações da criança. Os pais com estilo rejeitador-negligente apresentam baixos níveis de exigência e de responsividade, mostram-se indiferentes. Demonstram pouco envolvimento com a tarefa de socialização da criança, não monitorando seu comportamento. Tendem a manter seus filhos à distância, respondendo somente às suas necessidades básicas, o que pode estar associado a algum tipo de maltrato. (BAUMRIND, 1966, 1991).
A coparentalidade, por sua vez, é definida pelo envolvimento conjunto e recíproco de ambos os pais na educação, formação e decisões sobre a vida de seus filhos. Tendo por base a perspectiva sistêmica de família, a relação coparental é compreendida como um subsistema, no mínimo, triádico (dois adultos cuidadores e uma criança), que apresenta características específicas que influenciam no desenvolvimento da criança e no sistema familiar em sua totalidade. Trata-se, portanto, de um subsistema autônomo que se inter-relaciona com os demais subsistemas familiares – tais como, conjugalidade e estilos parentais individuais. A coparentalidade é compreendida como uma função que requer o desejo mútuo entre os cuidadores principais de proporcionar segurança, proteção, suporte emocional e físico das necessidades da criança ao longo do seu crescimento, independentemente do tipo de laço relacional. Refere-se, portanto, à forma como os pais coordenam as suas funções parentais, como se apoiam ou não, e como gerem os conflitos face à educação dos filhos. (FEINBERG, 2002, 2003). Na temática da criação dos filhos, entretanto, os estilos parentais mantêm- -se como dimensões importantes relacionadas à coparentalidade. Abidin e Brunner (1995) mostraram que existe uma correlação positiva e significativa entre coparentalidade positiva e o estilo democrático-recíproco, em ambos os progenitores. E em seu Modelo Ecológico da Coparentalidade, Feinberg (2002, 2003) descreve que a coparentalidade positiva está relacionada com a competência parental percebida pelos progenitores, com o comportamento das crianças e adolescentes, com baixos níveis de stress e com uma parentalidade democrático-recíproca. Neste contexto, o presente estudo buscou ampliar a compreensão da temática da criação dos filhos em uma perspectiva relacional-sistêmica, relacionando as variáveis dos estilos parentais de pais e de mães, de famílias biparentais com crianças de cinco a sete anos de idade, entre si (estilos materno e paterno) e destas com as variáveis da coparentalidade.
Assim, a compreensão do interjogo das relações parentais e coparentais permite subsidiar e qualificar as intervenções psicológicas e psicoeducativas com as famílias, no âmbito individual e grupal, em diversos contextos: educacional, em serviços de saúde e de assistência social.
Luciane Santos
pedagoga e Terapeuta

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